Boa noite pessoal,
Gostaria de, além de mostrar nossos queridos amigos, deixar um recadinho para todos.
Bem pessoal, depois de ver estes belos e saudáveis amiguinhos, gostaria de deixar um recadinho sério para todos vocês.
Existem animais que sofrem muito com algo chamado Doença renal, e deixei aqui um texto esclarecedor para quem deseja saber um pouco mais sobre, este que foi tirado de uma monografia de mestrado de Cláudia Freitas do ano de 2010 sobre Estadiamento da Doença Renal Crónica em Felinos.
"A Doença Renal
Crónica (DRC) caracteriza-se pela perda da funcionalidade renal devido a lesões
estruturais irreversíveis, que levam à destruição de pelo menos 75% dos
nefrónios funcionais em ambos os rins. É uma doença de evolução insidiosa,
progressiva e irreversível. Esta é frequente nos nossos animais de companhia,
sendo apontada como a doença renal mais frequentemente diagnosticada (Grauer, 2009) e a segunda causa de morte
mais comum em felinos (Schenck & Chew, 2010). Embora possa ocorrer em gatos
de todas as idades, é mais comummente diagnosticada em animais mais velhos com
idade superior a 7 anos (DiBartola, 2009). Estima-se que cerca de 1,6 a 20% da
população felina seja afectada pela DRC (Polzin et al., 2005). A Sociedade Internacional de Interesse Renal
(IRIS) propôs um sistema de classificação para a doença renal, que a categoriza
em quatro estadios consoante parâmetros definidos, com o objectivo de facilitar
a aplicação de orientações clínicas adequadas para o diagnóstico, tratamento e
prognóstico da doença (Polzin et al., 2005).
Para a
terapêutica a longo prazo ser bem sucedida está aconselhada a associação de um tratamento
nutricional ao tratamento médico. Este tem como principal objectivo retardar a progressão
da doença, permitindo uma melhoria da qualidade e sobrevivência destes pacientes.O
controlo precoce do fósforo pode aumentar o tempo de sobrevivência do paciente,
pois está provado que este mineral tem correlação com a progressão da doença. A
terapia nutricional, porém, não significa simplesmente alterar a dieta, é necessário também assegurar
adequada ingestão calórica e dar atenção ao método de alimentação para
estimular o apetite nestes animais (Polzin et al., 2005). Recentemente foi
proposto que o termo doença renal deve ser utilizado em detrimento do termo insuficiência renal. Ao usar o termo doença
renal e através do estadiamento da gravidade da doença irá facilitar a
compreensão, comunicação e aplicação das orientações de maneio destes pacientes
(Roudebush et al., 2009).A doença renal define-se como a presença de alterações
funcionais e estruturais em um ou ambos os rins. É caracterizada pela redução
da função renal ou pela presença de lesões renais.O uso dos termos doença renal,
falha renal, insuficiência renal, azotémia e
urémia como sinónimos pode levar a um diagnóstico errado e tratamento
inadequado. Doença renal não deve utilizar-se como sinónimo de insuficiência
renal ou urémia. Dependendo da quantidade de parênquima renal afectado e da
gravidade e duração das lesões, a doença renal pode produzir ou não
insuficiência renal ou urémia. É importante fazer esta distinção, pois os tratamentos
de apoio e sintomático para corrigir os desequilíbrios hidro-electrolítico,
ácidobase, de nutrientes e endócrinos nos pacientes com insuficiência renal,
normalmente não são adequados para os pacientes com doença renal sem disfunção
renal. A doença renal pode afectar os glomérulos, túbulos, tecido intersticial
e vasos. A causa ou causas específicas podem, ou não, ser conhecidas. No
entanto, a informação quantitativa acerca da função renal não está definida ou
implícita no termo doença renal (Polzin et al., 2005).O conceito de que função
renal adequada não é sinónimo de função renal normal é importante para
compreender a diferença entre doença
renal e insuficiência ou falha renal. O termo falha renal descreve o nível de
disfunção orgânica e não uma entidade patológica específica. De forma semelhante o termo insuficiência renal implica disfunção renal,
mas a um nível menos grave que a falha renal (Polzin et al., 2005).A urémia ou
síndrome urémica define-se como a síndrome tóxica multissistémica resultante duma
função renal anormal. Independentemente da causa esta surge quando a
integridade estrutural e funcional de ambos os rins está comprometida e os
sinais multissistémicos da insuficiência renal se manifestam clinicamente. As
doenças renais são muito comuns em gatos. A DRC é uma das causas mais
frequentes de morbilidade e mortalidade tanto nos gatos como nos cães, e
encontra-se entre as doenças mais diagnosticadas em felinos geriátricos
(Francey & Schweighauser, 2008; Polzin et al., 2005). Apesar de afectar
sobretudo animais velhos, a DRC surge com uma frequência variável em cães e
gatos de todas as idades. Estima-se que a prevalência em gatos idosos seja três
vezes superior comparativamente aos cães idosos, mas em ambas as espécies a incidência
aumenta com a idade. A prevalência desta doença tem apresentado uma tendência
crescente, o número de casos diagnosticados em gatos quadriplicou entre 1980 e
1990. Este
aumento poderá estar relacionado com uma maior preocupação proprietários com a
saúde dos seus animais, principalmente dos animais idosos, juntamente com um
maior empenho por parte dos Médicos Veterinários no diagnóstico das doenças renais
(Barber, 2004). Esta doença é mais
frequentemente diagnosticada em gatos com idade superior a 7 anos como
demonstra um estudo retrospectivo realizado em que 53% dos gatos diagnosticados
com DRC apresentavam mais
de 7 anos de
idade, no qual o intervalo de idades variava entre 9 meses e 22 anos. Houve um
aumento que foi verificado entre 1990 e 2000 pode ser devido a um crescimento
real na incidência da DRC na população felina ou apenas a uma maior
eficácia no diagnóstico
da doença (Ross et al., 2006).De acordo com alguns estudos realizados a
frequência da DRC é semelhante entre fêmease machos, no entanto, verificou-se
uma incidência cinco vezes superior em gatos
British shorthair, Birmaneses, Somali e Angora (Ross et al., 2006).
Alguns estudos fazem também referência às raças Maine Coon, Abissínia, Siamesa
e Azul da Rússia (Palacio, 2010).Sempre que possível a causa da DRC deve ser
investigada, embora qualquer processo que leve a destruição do tecido renal
possa estar na sua base (Brown, 1998). O tratamento específico que permite
controlar ou eliminar a causa primária
não altera as lesões renais irreversíveis já existentes, mas é importante para
abrandar o desenvolvimento de lesões renais adicionais.
Os processos
primários que podem levar ao desenvolvimento de DRC incluem inúmeras doenças
familiares, congénitas ou adquiridas. Dentro das doenças familiares encontra-se
a amiloidose nos gatos Abissínios e Orientais de pêlo curto e a doença dos rins
poliquísticos nos gatos Persa e
Hymalaia. Dos processos adquiridos fazem parte (1) as doenças infecciosas
bacterianas, micóticas (blastommicose), leptospirose, leishmaniose, peritonite infecciosa
felina (PIF), (2) as glomerulopatias, (3) a amiloidose, (4) neoplasias como linfossarcoma,
carcinoma das células renais, nefroblastoma, entre outras, (5) consequência da
insuficiência renal aguda (IRA), (6) hidronefrose bilateral por granuloma,
carcinoma das
células de
transição (no trígono vesical) ou nefrolitíase, (7) rins poliquísticos
adquiridos, (8)hipercalcémia maligna ou consequência de hiperparatiroidismo primário, e (9) causas
idiopáticas (Polzin et al., 2005).Os retrovírus felinos FIV e FeLV podem ser
potenciais causas, ainda que pouco frequentes,de glomerulonefrite em gatos.
Amiloidose e glomerulonefrite são processos menos comuns, mas linfoma renal,
doença do rim poliquístico, pielonefrite crónica merecem destaque como causa de
DRC em felinos. O linfoma renal é uma importante causa de DRC nos gatos.
Alguns alimentos
podem ser a causa da DRC. A deficiência em potássio na dieta ocasionalmente
ainda é causa de DRC em
gatos, mas em
menor escala, pois a indústria adicionou sais de potássio à composição da ração
comercial de cão e gato. Durante o início de 2007, na América do Norte foi
descrita a ocorrência de IRA em cães e gatos provocada pela ingestão de
alimentos contaminados, aparentemente devido à melamina e ácido cianúrico
presentes nos suplementos. Processos semelhantes podem levar ao desenvolvimento
de insuficiência renal sub-aguda ou lesão renal crónica, provocando assim DRC
(Chew & DiBartola, 2007). O grau de suplementação de vitamina D em muitos
alimentos comerciais de gato é preocupante, pois esta pode provocar
hipercalciúria levando a lesões renais irreversíveis. Um estudo
epidemiológico demonstrou que a alimentação ad libitum em gatos aumenta o risco
de desenvolvimento de DRC. A perda de peso é também um sinal frequente,
associada a uma má condição corporal. Letargia ou depressão são igualmente
sinais comuns descritos pelos proprietários. Nictúria ou urinar em locais
inadequados também podem ser observados
e devem diferenciar-se de outras possíveis causas, como alterações
comportamentais (Rand, 2006).A fraqueza ocorre em cerca de 50% dos animais e é
frequentemente associada a hipocalémia. Os donos descrevem que os gatos ficam
relutantes em saltar ou apresentam um salto instável e tornam-se menos activos.
A constipação/obstipação também é frequente, como resultado da desidratação. O
vómito é menos comum, e se estiver presente é geralmente intermitente (Rand,
2006). Examina-se a cavidade oral para verificar a cor das mucosas (geralmente
pálidas em caso de anemia), a presença ou não de úlceras ou necrose da ponta da
língua. Um exame do fundo do olho pode fornecer evidência de problemas na retina
associados a hipertensão sistémica secundária a doença renal (Rubin,
2000). A frequência e o tipo de pulso, o
tempo de repleção capilar e a frequência cardíaca devem ser registados. Os
animais jovens em crescimento que apresentam DRC podem desenvolver
osteodistrofia
fibrosa, que se caracteriza pelo alargamento e deformação do maxilar e mandíbula
(Ford & Mazzaferro, 2006). A urina normal é inibidora do crescimento
bacteriano, devido à alta osmolaridade, teor em sais, entre outros factores.
Sempre que a composição urinária é alterada, como ocorre na DRC, aumenta o
risco de crescimento bacteriano e consequente desenvolvimento de ITU. Nos
felinos com DRC podem surgir encefalopatias metabólicas e neuropatias
periféricas. As alterações do estado mental dos pacientes com DRC geralmente
estão associadas a mau prognóstico a curto prazo. Outros sinais que podem
surgir incluem: fraqueza dos membros, ataxia, tremores, convulsões e
mioclonias. Em casos de DRC avançada, os pacientes podem apresentar sinais
neurológicos cíclicos e episódicos. A gravidade e progressão destes sinais
variam directamente com o desenvolvimento da urémia. A restrição
proteica na dieta tem sido associada a efeitos benéficos nos gatos com DRC, nomeadamente
no aumento do tempo de sobrevivência do animal (Elliott et al., 2000). Por este
facto, a redução na ingestão de proteína tem sido, ao longo dos anos, a base do
tratamento nutricional destes pacientes (Alen et al., 2000).A quantidade ideal
de proteína nas dietas de animais com DRC ainda não foi estabelecida,
no entanto, é
recomendado por alguns autores que a ingestão de proteína deve ser restrita a
cerca de 20% do total de calorias da dieta dos felinos com DRC (Surgess, 2008).Os
felinos necessitam de altos níveis de
arginina e taurina, pois estes sintetizam apenas uma pequena quantidade de
taurina e não podem utilizar a glicina para a conjugação de ácidos biliares se
existe restrição de taurina. Assim, uma fonte animal de taurina é necessária na
dieta destes pacientes (Schenck & Chew, 2010).Nos pacientes com DRC esta
situação resulta frequentemente de uma inadequada ingestão de alimentos. No
mercado estão disponíveis alimentos especialmente formulados para estes
animais, que contêm proteína, calorias e outros nutrientes em quantidade
suficiente para fornecer uma ingestão adequada quando é ingerida nas porçõesapropriadas.
Alguns gatos nos estadios III e IV da DRC recusam-se a comer a dieta voluntariamente,
independentemente da palatabilidade ou do conteúdo em nutrientes.Quando a má
nutrição é evidente ou suspeita a abordagem deve ser feita de forma gradual para
facilitar uma ingestão adequada. Os
felinos podem desenvolver aversão à dieta se esta for introduzida em
momentos de stress, como no caso da hospitalização ou alimentação forçada, por
isso, o novo alimento deve ser implementado em casa, com o animal mais calmo.
Nesse caso o proprietário deve ser educado acerca do importante papel do maneio
nutricional no aumento do tempo de sobrevivência e qualidade de vida do seu
animal. Para que o tratamento seja bem sucedido é necessário que o dono entenda
os seus benefícios (Roudebush et al., 2009).
A temperatura
pode ser importante, geralmente os gatos preferem o alimento fresco à
temperatura ambiente. Alguns podem comer o alimento refrigerado previamente aquecido.
A textura e formulação do alimento são aspectos importantes nos felinos. Alguns
animais demonstram preferência por alimento seco ou húmido quando se encontram saudáveis,
mas quando se desenvolve a doença renal podem alterar as suas preferências(Roudebush
et al., 2009).
A adição de
intensificadores de sabor, como calda de galinha com baixo teor de sódio, levedura
de cerveja, pequena quantidade de comida normal, podem ser úteis para aumentar a
palatabilidade e estimular o animal a ingerir a nova dieta. No entanto, é
necessário ter em atenção as quantidades, pois o uso excessivo de outros
alimentos pode diminuir os efeitos
benéficos do
tratamento nutricional (Roudebush et al., 2009).Se todos estes passos falharem,
uma marca de alimento diferente pode ser oferecida. Deve evitar-se fornecer
amostras de várias marcas distintas ao proprietário, ao mesmo tempo,
uma vez que o
animal poderia desenvolver aversão alimentar a todas essas dietas (Roudebush et al., 2009).
Os rins são
os principais órgãos responsáveis pela
manutenção do equilíbrio hidroelectrolítico corporal através da preservação ou
excreção de água e electrólitos, conforme as necessidades do organismo (Polzin, 2009b). A ingestão inadequada de
água em pacientes com DRC está associada a desidratação, diminuição da perfusão
renal e agravamento adicional da função renal. Alguns gatos apresentam uma
agudização da DRC, devido ao esgotamento súbito de volume, enquanto outros
desenvolvem desidratação crónica ou recorrente e hipoperfusão renal (Sparkes,
2006). A perda adicional da função renal devido à lesão aguda é uma causa
potencialmente importante para a progressão da DRC.Os gatos que apresentam DRC agudizada
necessitam de fluidoterapia endovenosa e reavaliação da azotémia após a
correcção da desidratação, para permitir a avaliação precisa da função renal. "
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